O Janeiro Branco é uma campanha de abrangência internacional, que atualmente ocupa um lugar muito importante no debate atual sobre o aumento dos transtornos mentais, bem como na promoção de saúde e prevenção de doenças.
Em tempos atuais todos vivemos uma velocidade de informações, expectativas, demandas e trabalhos que muitas vezes superam nossa capacidade de organização e assimilação. Essa condição leva ao desequilíbrio da saúde mental e consequente sofrimento. Dependendo da intensidade do sofrimento, de suas características sintomáticas e de seu potencial para interferir no funcionamento cotidiano, se inicia o processo de adoecimento mental.
Estatísticas do INSS apontam que os transtornos mentais estão entre os grupos de doenças que mais afastam pessoas do trabalho. Dependendo do ano e da pesquisa, estão entre 2.o ou 3.o lugar na concessão de benefícios por incapacidade temporária. Outras pesquisas apontam um aumento gradual, no decorrer dos anos, no afastamento por causas psiquiátricas. Outras estatísticas também indicam aumentos no número de diagnósticos psiquiátricos, bem como aumentos anuais nas taxas de suicídio, e de automutilação entre adolescentes. Os números alarmantes corroboram da necessidade de se estabelecer estratégias para combater a progressão destas tendências.
Com objetivo de promoção da saúde mental e de ações de prevenção de doenças psiquiátricas, foi criado, em 2014, a campanha do Janeiro Branco. Inicialmente idealizado em território brasileiro pelo psicólogo Leonardo Abraão, gradualmente foi incorporado também por outros países, como Angola, Japão, Colômbia, Estados Unidos, Portugal, Espanha e Cabo Verde.
A escolha pelo mês tem um caráter simbólico oriundo da cultura que já acompanha este período. Janeiro representa o início de um novo ano, é uma época em que as pessoas refletem sobre o saldo de suas ocupações e produção no ano anterior, identificam os pontos altos e baixos que o ano lhes ofereceu. Um período que oportuniza que as pessoas produzam estratégias de melhorias para o ano seguinte, que se perdoem pelas culpas e erros do passado, e que estimule um estado reflexivo e de autopercepção.
Promover saúde mental é um processo mais amplo do que tratar doenças psiquiátricas. Inclui instituição e modificações de hábitos saudáveis, bem como o estímulo ao autoconhecimento, de forma a favorecer que a pessoa não se coloque em situações de estresse e sobrecargas, saiba lidar melhor com seus limites, e com as expectativas suas e dos outros. De forma pragmática, inclui o cumprimento de rotinas de atividades físicas, o equilíbrio entre trabalho e lazer, a manutenção e ampliação do repertório de interesses culturais e lúdicos, a preservação de uma quantidade e qualidade de sono, o cultivo de vínculos sociais e familiares saudáveis.
Muitas vezes, para que possamos atingir esses objetivos, é necessário auxílio profissional. Em fase pré-clínica, ou seja, enquanto ainda não há um diagnóstico detectável, é recomendado o investimento em psicoterapias. A partir do momento em que a gravidade do sofrimento ultrapassa o limiar do diagnóstico psiquiátrico, é recomendável também o uso de medicamentos.
O Brasil vive ano após ano tendências de aumento de diagnósticos psiquiátricos, suicídios e afastamentos laborais por motivos de doença mental. Estratégias de promoção de saúde como o Janeiro Branco são uma excelente oportunidade para a conscientização desse problema, e atenuação de seus efeitos.
Por Ricardo Sbalqueiro
Médico Psiquiatra – CRM 23 775 PR
